União de mulheres e de gerações - O protagonismo feminino na Festa Japão de Bragança Paulista
- Rafaela Maciel
- 29 de mai.
- 4 min de leitura

Em sua 16ª edição, a Festa Japão de Bragança Paulista festeja mais do que a rica cultura nipônica — celebra também a força, a sensibilidade e o protagonismo das mulheres que, nos bastidores e à frente do evento, mantêm vivas as tradições e a união da comunidade.
Comemorando os 70 anos da Associação Nipo-Brasileira da cidade, o festival deste ano, que acontece nos dias 30 e 31 de maio e 1 de junho, marca uma nova fase, sendo realizado pela primeira vez no Posto de Monta para receber com mais conforto um público estimado de 20 mil pessoas. E por trás dessa grandiosa celebração, há uma rede de mulheres que transformam dedicação em legado.
Tradição e solidariedade: as pioneiras

À frente do Fujinkai, o tradicional grupo de senhoras da Associação, Katsuko Ishihama, Yaeko (Neide) Koketsu e Vera Kikuchi somam décadas de dedicação voluntária. “Estou há 45 anos na Nipo”, conta Katsuko, relembrando os tempos em que preparavam doces e salgados em fogão de lenha para festas de casamento.
Neide participa do grupo desde 1996, quando seu marido se tornou presidente da Associação. “Vinha para ajudá-lo, muitas vezes trazendo meu filho junto. Na época, auxiliei quando da chegada da Akiko Sensei na Escola Japonesa e em outras atividades do Fujinkai como alimentação, bazar, crochê e a entrega dos jornais da Nipo”, destacou Neide. O grupo, que reúne atualmente 25 mulheres com idades acima dos 60 anos, não só cuida da parte cultural e gastronômica como também promove ações beneficentes e sociais.

Katsuko, Neide e Vera já dedicaram muito trabalho na Nipo. Colecionam festas, participações em eventos, ações beneficentes e a organização de 17 concursos de karaokê. Sobre o famoso yakisoba da Associação, Neide disse que é uma receita que vem de gerações e destaca que “o molho tem que ser bem caprichado”. O trio recorda o dia em que o grupo de mulheres chegou a fazer 800 pratos de yakisoba em um dia.
No festival, o grupo ajuda o Departamento de Taiko, hoje responsável pelo yakisoba, na preparação prévia (corte dos legumes) e, no dia, orientam na cozinha de maneira geral. Segundo Vera, é “pauleira” e “às vezes vem gente de fora cantar karaokê e eu quero assistir, mas quando vejo, já foi”. Neide enfatiza os detalhes “prato japonês a gente come com os olhos, tem que ter uma boa apresentação”.

Vera, que preside o Rojinkai (grupo de idosos), destaca a importância da convivência e cuidado com os mais velhos. “Nosso membro mais velho tem 94 anos e participa ativamente”, diz com orgulho. O Rojinkai conta com as mesmas pessoas que o Fujinkai. A diferença é que também acolhe homens. “Nos encontros mensais, recebemos o Dr. Sakabe que, voluntariamente, faz um check-up em todos”.
Educação e cultura
Na nihongakko, Escola Japonesa, fundada em 1951, Akiko Uenishi e Janete Terumi Nakano vão além do ensino da língua. Promovem a cultura japonesa por meio de festividades, oficinas de culinária e cerimônias típicas. Durante o Festival, elas assumem funções-chave: da cozinha à curadoria de atividades como origami, shodô e demonstrações de kimono.
Para Akiko, que também é diretora de Cultura, o envolvimento das mulheres está presente em todos os departamentos: “Não há divisão entre homens e mulheres. Todos colaboram e as mulheres contribuem muito com o olhar sensível e detalhista.”


Terumi, além de professora, é também secretária da associação, e sua ajuda é imprescindível em todos os departamentos. “Como secretária da associação, desempenho várias funções. Sou responsável pelas compras, pelo atendimento e também pela seleção dos lojistas que participam do evento. Além disso, dou suporte direto aos diretores para resolver questões que surgem. Por estar envolvida em várias frentes, acabo tendo uma visão ampla de tudo que está acontecendo, o que me permite agir rapidamente quando necessário”, destacou Terumi.
Jovens Lideranças
Representando a nova geração, Anna Zanella e Hannah Sammartino, respectivamente presidente e vice do Seinenkai, grupo de jovens, mostram que a participação feminina se renova com força. Responsáveis pela cozinha do grupo — famosa pelo tempurá de legumes, camarão e o inusitado tempurá de sorvete, também cuidam da infraestrutura antes e durante o evento, da compra de matéria-prima e embalagens, e do controle dos jovens voluntários e distribuição de brindes.

“Eu vejo como essencial manter viva a participação feminina dentro da Associação. Ocupar uma liderança hoje é uma forma de mostrar que as mulheres têm voz e capacidade de representar a comunidade. Acho que essa presença, tanto dentro do Seinenkai quanto da Associação como um todo, é importante para manter o equilíbrio e a diversidade. Tenho certeza de que dessa gestão sairão jovens mulheres capazes e apaixonadas pelo que fazemos e que continuarão com toda a fúria que o Seinenkai traz para o coração”, destacou Anna.
União de gerações e a força das mulheres

Para Adriana Furukawa, diretora administrativa e de eventos da Nipo, o impacto do Festival vai além do cultural: movimenta financeiramente todos os setores da Associação, garantindo sua sustentabilidade. Mas ela reforça: “Queremos, com orgulho, reconhecer todas as mulheres que colaboraram com resiliência e sabedoria nesses 70 anos. Continuaremos semeando nossa linda herança cultural.”
O que une essas mulheres — de idosas a jovens — é o amor pela cultura japonesa, o compromisso com a comunidade e a certeza de que tradição se constrói com mãos femininas, todos os dias.
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