A invisibilidade do autismo feminino
- Rafaela Maciel
- 2 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Hoje é celebrado o dia mundial da conscientização sobre o autismo. A Elas em Pauta entrevistou a psicóloga e professora da USF (Universidade São Francisco) Lisandra Borges sobre o autismo feminino e as limitações que ainda existem sobre o tema.

Por Laíza Lima, jornalista
Dia 2 de abril, é celebrado o dia mundial da conscientização sobre o autismo, porém pouco se fala sobre mulheres que possuem esse diagnóstico. No campo da ciência, a maioria dos métodos de identificação do autismo tem como referências dados de pessoas do sexo masculino. Já no âmbito social, as mulheres tendem a camuflar as características do autismo.
Em 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data de 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, com o objetivo de ampliar os debates e levar informação sobre o transtorno que é caracterizado, principalmente, por déficits persistentes na comunicação e na interação social. De lá pra cá muitos pré-conceitos foram desmistificados em relação as pessoas que possuem um nível dentro do espectro autista. Entretanto, ainda está enraizado o pensamento de que os homens são protagonistas no transtorno, colocando um empecilho para que o autismo feminino seja evidenciado e discutido.
Segundo a psicóloga, mestre e doutora em Psicologia com ênfase em avaliação psicológica e professora na Universidade São Francisco, Lisandra Borges, as mulheres apresentam os mesmos sintomas que os homens, mas em intensidades diferentes e muitas das suas dificuldades passam despercebidas, “Alguns pesquisadores sugerem que meninas são menos suscetíveis geneticamente a manifestarem o autismo. Além disso, entende-se que o marcador de neurodesenvolvimento começa na puberdade, enquanto, nos meninos, se inicia já na infância e isso dificulta o diagnóstico precoce.”
A dificuldade de conseguir o diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA) em pessoas do sexo feminino se dá por conta que a maioria dos métodos de identificação usam como referência dados de pessoas do sexo masculino. Outro fator que dificulta, é que mulheres tendem a camuflar as características do autismo, o que os especialistas chamam de “masking”, por conta de toda carga histórica em homens e mulheres eram inseridos na sociedade.
A fixação por rotina, organização e arrumação são um exemplo disso. A sociedade tende a estranhar essas características em meninos e normalizá-las em meninas. Outro exemplo são os problemas com a interação social, que costumam chamar mais atenção em meninos. Quando em meninas, há casos em que essas dificuldades são associadas à timidez e retraimento. Esses estereótipos podem fazer com que os sintomas de autismo em meninas sejam menos percebidos.
Lisandra comenta outro fator que pode estar envolvido no impedimento da descoberta mais cedo do autismo, o modo como mulheres recebem maior estimulação na infância, com diferenças nas brincadeiras, “A exemplo, as meninas brincam mais de casinha, comidinha e isso contribui para o entendimento da dinâmica social para um repertorio socioemocional maior.”
Pessoas com autismo enfrentam o estigma que a sociedade impõe como normalidade, a falta de oportunidades e acessibilidade são desafios que diariamente são colocados a frente e quando não se sabe que faz parte do espectro fica mais difícil saber como lidar com situações que podem acarretar crises. Lisandra pontua que ao longo do tempo, a mulher autista se percebe como “diferente” e ‘inadequada”, o que a leva a desenvolver baixa autoestima e depressão e ansiedade.
A importância de saber de possuir essa condição tem um impacto positivo na vida dessas mulheres, passando a ver o sentido e tendo a oportunidade de entender como a mente funciona diferente das outras pessoas, compreendendo suas limitações e auto aceitando. “Algumas pessoas com autismo dizem que 'chega a ser libertador', por conseguirem se conhecer e nomear as suas dificuldades.”
O acolhimento e acompanhamento médico adequado é essencial para quem está dentro do espectro autista, assim que é dado o diagnóstico de TEA as mulheres devem buscar suporte para que tenham o apoio dali pra frente. O autismo em mulheres deve ser ressaltado para que cada vez mais elas possam ter seu lugar de fala na sociedade e a validação dos desafios que enfrentam seja respeita e compreendida.
Sobre a exitência em Bragança Paulista de grupo de apoio às mulheres com autismo, Lisandra informou que, infelizmente exitem apenas grupos online. "O meu trabalho tem se voltado para o Transtorno do Espectro Autista há 24 anos. Nesse tempo desenvolvi protocolos de avaliação, artigos e uma escala que auxilia no diagnostico de TEA, que hoje tem um reconhecimento nacional. Após o lançamento da SRS-2 (é uma escala destinada a mensurar sintomas associados ao Transtorno do Espectro Autista), muitos adultos passaram a ser diagnosticados. A SRS-2 tem contribuído substancialmente no protocolo de avaliação do TEA em nosso país", destacou Lisandra.




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