Websérie "Vila no Feminino" destaca o protagonismo das mulheres na escola de samba de Bragança Paulista
- Rafaela Maciel
- 8 de jan.
- 4 min de leitura

No último dia 14, foi lançada a websérie Vila no Feminino que tem como personagens mulheres que tiveram papéis importantes na escola de samba de Bragança Paulista, a Acadêmicos da Vila Aparecida. A websérie é composta por cinco episódios e visa, de acordo com a produtora cultural e documentarista, Tamires Santana, ser inspiração para que as mulheres reflitam sobre suas próprias colaborações nos processos que estão ou estiveram envolvidas e que se vejam como protagonistas e não coadjuvantes.

Tamires, que também é assessora de comunicação, educadora popular, mãe pequena de terreiro e coordenadora PLP (Promotoras Legais Populares) de Francisco Morato, reside em Caieira e conheceu a presidente da Acadêmicos da Vila, Francislaine Calazans, no curso de pós-graduação de Gestão e Design de Carnaval, na capital paulista. A partir desta relação construída ao longo de um ano e os estudos motivados pela pós, surgiu à vontade de realizarem juntas algum projeto e logo veio a inspiração para produzirem a Vila no Feminino.
Confira a entrevista que o Elas em Pauta fez com a documentarista sobre a Vila no Feminino:
EP: Qual é o objetivo da websérie?
Tamires: A websérie tem o objetivo de protagonizar o ponto de vista, histórias e a participação de mulheres que fizeram parte da Acadêmicos da Vila; é resgatar histórias, contar o que ninguém ou pouca gente sabe e proteger a memória do carnaval de Bragança, mas sempre colocando a mulher como protagonista.
EP: Como foi pensada a Vila no Feminino?
Tamires: O projeto foi pensado por mim, pela Francislaine e pelo carnavalesco Domingos Leite, Mingo. À medida que eu conhecia os projetos realizados pela escola ao longo da sua caminhada, quem eram as pessoas que hoje fazem parte da história, foi crescendo a ideia de destacar o papel das mulheres.
Eu gosto muito de ler e dois livros me inspiraram muito: “Carnaval no Feminino”, de Juci Machado e “Bixas Pretas: dissidência, memória e afetividades”, organizado por David Souza, por achar ambas as abordagens muito interessantes e necessárias, me ajudou muito a me inspirar para direcionar o projeto para algo neste sentido.
Além disso, sendo uma pessoa das magias e macumbas, próximo a este período, havia recebido uma orientação espiritual de que eu vim para também contribuir com assuntos relacionados às mulheres, nisto, uni uma coisa com a outra e, com a colaboração dos dois, a ideia foi sendo desenhada, até surgir Vila no Feminino. Foi um processo bem sutil e bonito que tive a alegria de fazer parte.
EP: Quais mulheres foram selecionadas?
Tamires: Selecionamos muitas pessoas, além das que participaram da webserie, porém, além da limitação orçamentária, tínhamos que cumprir com o tempo para a execução de todo o projeto. Com isso, selecionamos etapas da história da Vila para tentar minimamente contemplar diferentes períodos. Buscamos ilustrar personagens que pudessem retratar algo do início da escola até os dias atuais. Segue a listagem das participações conforme cada episódio:

EPISÓDIO 01 - “Carnaval do fio dental”
Alzira (Lilinha) (cabrocha/passista nos anos 70)
Blenda Moraes Santos (passista / filha da Solange in memorian)
Domingos Leite (Mingo) (proponente do projeto / Carnavalesco da Vila)
EPISÓDIO 02 - “A voz do samba enredo
Assunção Mulher em Ação (empresária / foi intérprete de samba enredo)
Tami Uchôa (intérprete de samba enredo)
Vivi Cirqueira (cantora e intérprete de samba enredo)
EPISÓDIO 03 - “A rainha está nua”
Naila Aparecida Siqueira Calazans (rainha da bateria)
Flavia Nascimento (madrinha)
EPISÓDIO 04 - “Carnaval de todes”
Fran Macedo (musa TRANS)
Juma (destaque)
Atílio Nory (ativista/membro Dragões da Real)
EPISÓDIO 05 - “Primeira, mas não a última”
Francislaine Calazans (presidente)
Geisle Cristina de Siqueira (porta-bandeira)
Mario Augusto Calazans (diretor de barracão)
EP: Quanto tempo demorou para ser filmado?
Tamires: A nossa primeira reunião para pensar o projeto foi em 05 de dezembro de 2023; após passar pelos processos do edital, voltamos a falar sobre o projeto em fevereiro de 2024 e de 14 de junho a 19/08/2024 foram feitas as filmagens. Depois disto, passamos para o processo de decupagem e edição até a data do lançamento, que ocorreu no sábado 14/12 na quadra da Vila.
EP: O que você deseja provocar no público?
Tamires: Desejo que cada mulher reflita sobre a sua própria colaboração nos processos que está ou esteve envolvida e que se veja como protagonista e não coadjuvante. Desejo provocar nas pessoas envolvidas em instituições culturais o desejo em conhecer e regatar as histórias, seja esta pessoa tendo um legado familiar ligado ou não. Só assim a gente consegue mudar as abordagens de uma história contada pelo colonizador, o qual exclui quem foi colocado nas margens, nas periferias ou em um lugar forçado de esquecimento. Espero poder contribuir como uma faísca que ascende algo muito potente e necessário para um possível repensar os papeis de gênero, raça e poder. Quem sabe, sonhar nunca é demais (risos).
Confira a websérie em





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